A Teologia nossa de cada Dia - Reflexões sobre os valores do Reino em uma sociedade dita pós-moderna.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Rituais de Passagem e suas Implicações na Sociedade Hodierna


Podemos dizer que ritos de passagem são celebrações que acontecem pela mudança de status de uma pessoa no seio de sua comunidade, sendo os mais comuns o nascimento, mortes, casamento e formatura. Os rituais de passagem não têm mais o mesmo poder simbólico de antes. Tomando o casamento, o batizado ou a apresentação de crianças nas igrejas como exemplo, poderíamos nos perguntar quantas pessoas que se casam estão realmente consciente de suas responsabilidades. Quantas pretendem cumprir a promessa solene feita diante do seu sacerdote? Ao ter filhos, quem pretende manter a criança na fé dos seus antepassados? Obviamente, nas sociedades primitivas, tais promessas eram obrigações indiscutíveis e sagradas. Rompê-las era colocar em risco a própria sobrevivência da tribo como unidade coerente e coletiva.
A quase total ausência de ritos de passagem que suportem a construção de laços sociais e discursivos, ou seja, a falta de práticas que legitimam o sujeito em sua comunidade, pode ser pensada como uma das causas do grande número de jovens despreparados para as dificuldades da vida. Inadaptados à dura realidade do mundo, muitos preferem existir como eternas crianças ou adolescentes, por isso, não amadurecem de forma tranquila e saudável. Se antes a função das cerimônias era ajudar a organizar uma pertinência discursiva e social na mudança de uma idade a outra, com a perda de seu valor, encontramos jovens mais desorganizados e desamparados na realidade em que vivemos.
 Sem rituais de passagem que cumpram a função de dispositivos sociais ordenadores, os jovens buscam substitutivos. Muitos partem para algumas transgressões, como por exemplo, o uso de drogas. Outros se ligam ao consumismo e, toda vez que compram um objeto atribuem um valor a ele até o substituir por outra coisa, conjugando, desse modo, de um imediatismo narcísico muito próprio da sociedade fragmentada da atualidade, ou seja, os indivíduos buscam suas identidades a partir dos objetos que consomem.
Se, por um lado, os rituais suportam significados, eles ajudam a dar um norte para o sujeito, uma vez que lhe conferem um lugar social e propagam valores a serem seguidos. Em contrapartida, os objetos frutos de nosso consumo são voláteis, portam valores temporários e não sustentam nenhuma estrutura simbólica.
Isso não significa que os rituais em si morreram completamente. Mas vivemos em uma legalidade tão perversa que deixamos nossos filhos se perderem, nossos valores se dissolverem e dizemos ... é a modernidade ... hipócritas quando dizemos que hoje os valores que compartilhamos são mais diversificados.
          A forma como lidamos com o casamento, o batizado e demais cerimônias possui agora novos significados, formatos e espaços. Na contemporaneidade, os ritos de passagem estão distanciados do sagrado, são incapazes de cumprir as funções anteriores, mas, ainda assim, continuam presentes, embora sem as mesmas funções de antes ... mascaramos nossos valores e dizemos que somos livres ... maquiavélicos quando nos perdemos nesse mundo cheio de promiscuidade e aceitamos como liberdade de expressão ....


         Pense e repense onde estão os valores, a moral e a ética que você um dia pregou? 

Por Maíra de Melo Roza