A
Docência Cristã e a Aprendizagem Continuada
“O
que ensina, que haja dedicação”( Rm 12:7)
O
versículo bíblico acima, por si só já diria muitas coisas. Quando o Apóstolo
Paulo descreve sobre os dons e as devidas funcionalidades do corpo, preceitua
que alguém que possui um dom, precisa se aperfeiçoar nele. A perícope
apresentada nos fornece a idéia de que aquele que ensina, dedique-se, ou seja
aprimore e seja diligente.
Dentro
do prisma educacional cristão, este preparo possui um tripé que é formado pela
vida de consagração, vida de estudo bíblico e o preparo teológico.
Diante
das novas tendências e propostas educacionais tais como as EADs – Educação à
Distância, o docente precisa repensar mais o seu papel ante a educação. Vejamos
o parecer de alguns especialistas na área.
O
novo cenário educacional coloca a formação continuada em serviço como uma
necessidade urgente para os profissionais da educação. O professor precisa
ampliar seu olhar de forma a continuar a aprender para ensinar, de maneira a
superar possíveis lacunas em sua formação inicial, pois segundo Paulo Freire a
história dos educadores é sempre inacabada.
O
professor passa a ser visto, nas tendências atuais de formação de professores,
como parte do processo, pois o mesmo atuará como tutor e não mais como detentor
de conhecimentos. Candau (1996) acrescenta que a formação dos professores deve
ter como principal ponto de partida os saberes dos docentes bem com o
reconhecimento e a valorização desse saber.
Na
opinião de Cury (2002), o ser humano aprendeu a dominar o átomo e as
tecnologias, mas não aprendeu a lhe dar com o mundo de dentro compreendendo os
imensos territórios da sua alma.
A
formação do educador é um processo político e pedagógico intencional e
preestabelecido que, segundo Libâneo (2000), possui duas dimensões: a formação
teórico científica, contemplando a formação específica das matérias nas quais o
docente irá especializar-se e a formação pedagógica em conhecimentos de
filosofia, sociologia, história da educação e da pedagogia e suas concepções
que estudam o fenômeno educativo, a partir de um contexto sócio-histórico,
porque a educação possui uma função essencialmente “social”. O docente precisa
ter um sentimento profundamente arraigado que pertence a uma comunidade e a
consciência a que disto decorre os direitos e deveres, pois é da prática do
civismo que resultam a aprendizagem e a consciência da cidadania.
Até
mesmo nesta citação de Libâneo, vemos a tendência da sociedade em preparar o
docente apenas no conhecimento e não as suas emoções. Precisamos entender que o
ser humano e uma tríade composta de corpo, alma e espírito e não apenas um
depositário de conhecimento e uma máquina de produzir resultados em uma
sociedade capitalista que exclui e inclui a partir da produtividade.
Augusto
Cury, ao traçar um paralelo entre um bom mestre e um mestre excelente nos diz:
O bom mestre
possui eloqüência, mas um excelente mestre possui mais do que isso; possui a
capacidade de surpreender seus alunos, instigar-lhes a inteligência. Um bom
mestre transmite o conhecimento com dedicação, enquanto um excelente mestre
estimula a arte de pensar. Um bom mestre procura seus alunos porque quer
educá-los, mas um excelente mestre lhe aguça tanto a inteligência que é
procurado e apreciado por eles. Um bom mestre é valorizado e lembrado durante o
tempo de escola, enquanto, um excelente mestre jamais é esquecido, marcando
para sempre a história de seus alunos. Cury (2006, pg 109).
Tais
palavras nos mostram o quanto o conceito de educador mudou. É preciso resgatar
o ser humano dentro de cada educador. Em seu livro Conversas com quem gosta de
ensinar, Alves (2004) traça um paralelo entre educador e professor, dizendo que
o Educador habita num mundo em que a interioridade faz a diferença, em que as
pessoas se definem por suas visões, paixões, esperanças e por seus horizontes
utópicos, já o professor é um funcionário de um mundo dominado pelo Estado e
pelas empresas; entidade administrada, gerenciado segundo a sua excelência
funcional, excelência esta julgada sempre a partir dos interesses dos sistemas.
Dentro desta visão, nos perguntamos: Será que o profissional não é um corpo que
sonhava e que foi transformado em ferramenta? As ferramentas são úteis e
necessárias, mas não tem a capacidade de sonhar.
Para
Alves (2010), os currículos para a formação de docentes deveriam conter uma
matéria que ensinasse o professor a ter compaixão (pathos – sentimento). Em
nosso idioma poderíamos entender com empatia (colocar-se no lugar do outro e
sentir o que ele sente). Quando o nosso conhecimento é associado à compaixão
criamos uma sociedade mais humana, bondosa e que pensa no coletivo e não no
individual. Precisamos de um currículo que ensine ao ser humano a conhecer as
suas virtudes e que somos seres sociáveis. Infelizmente, os conteúdos
programáticos nos ensinam em como obter e conquistar o mundo de fora, mas não
nos ensina a conquistar o mundo de dentro. Ensinam uma época situacionista
gerando um pragmatismo em vários rincões sociais, mas não ensinam os alunos uma
postura ética e moral.
Outro
requisito imprescindível na formação continuada do docente é compreender os
processos educacionais, porém trata-se de uma tarefa árdua e complexa uma vez
que estamos diante de uma sociedade em constante transformação e as
instituições de ensino não estão alijadas desse contexto, ao contrário,
influenciam e são influenciadas por essas mudanças, desta forma é necessário
que se implemente um movimento de formação que seja investigativo e que auxilie
o professor a compreender a realidade posta e suas implicações ao campo da
educação.
A
educação deve ser como uma rede sui
generis de difusão de um conhecimento
valioso para uma sociedade que vive em constante mutação, pois para transformar
os conteúdos em nutrientes das capacidades do alunato, precisamos: estabelecer
conexões interdisciplinares possíveis entre as diversas áreas do saber;
conscientizar sobre temas e problemas que afetam todo o mundo
globalizado e analisar e avaliar as contribuições mais destacadas para o
progresso humano.
É
proeminente, que o professor assuma, de fato, a postura de pesquisador, mas,
que o seu objeto de estudo ultrapasse as barreiras compartimentadas de cada
área, para um tecido mais amplo, social e conjuntural, baseado em uma abordagem
que se entrelace à outras áreas de conhecimento, e abra o diálogo entre campos
distintos, advogando portanto, por uma formação permanente e ao longo de toda a
vida que contemple esses fatores.
Vale
salientar que o saber dos professores não é um conjunto de conteúdos cognitivos
definidos de uma vez por todas, mas um processo em construção ao longo de uma carreira profissional na
qual o professor aprende progressivamente a dominar seu ambiente de trabalho ao
mesmo tempo em que se insere nele e o interioriza por meio de regras de ação
que se tornam parte integrante de sua consciência prática.
Nóvoa
(1999) chama a atenção para a necessidade de se implementarem ações de formação
articuladas com a prática pedagógica, estabelecendo a relação teoria e reflexão
sobre a prática. Investir na formação continuada do professor dentro do seu
ambiente de trabalho reflete um movimento que busca compreender a formação como
processo reflexivo e justifica-se na medida em que “os problemas da prática
profissional docente não são meramente instrumentais; todos eles comportam
situações problemáticas que obrigam a decisões num terreno de grande
complexidade, incerteza, singularidade e de conflito de valores”.
Na
opinião de Perrenoud (2000), neste novo cenário, o educador contemporâneo
precisa desenvolver 10 (dez) competências para que alcance êxito no processo
ensino-aprendizagem. Vejamos algumas: 1) conceber e fazer ouvir os dispositivos
de diferenciação – o professor contemporâneo deve estar atento a esta
habilidade para garantir o desenvolvimento de seu aluno como um ser ativo e
cidadão que consegue cooperar para a evolução de si mesmo e do outro; 2)
envolver os alunos em suas atividades e trabalhos; 3) utilizar novas
tecnologias e administrar sua própria formação contínua, pois a vivência em
educação exige do professor essa consciência do saber conhecer, para saber de
forma que nos leve a saber a viver junto, e atingirmos o estágio de saber a
ser.
Para Demo (1993), a docência da melhor qualidade se constitui
a partir de cinco dimensões da competência que o professor deve desenvolver,
são elas: dimensão profissional que deve dominar com propriedade sua área de
atuação, a dimensão humana que podemos enfatizar as relações interpessoais, a
dimensão ética que se relaciona com o respeito e solidariedade, um bem
coletivo, dimensão social-politica, que podemos enfatizar os trabalhos de
construção coletiva da sociedade e o exercício dos direitos e deveres, dimensão
didático-pedagógica, que envolve o domínio dos processos de ensino
aprendizagem, suas metodologias.
Se
realmente acreditamos na Educação, precisamos investir mais nos docentes e na
educação para que assim venhamos a ter uma sociedade mais justa, igualitária,
livre e consciente ao exercer os seus direitos e deveres de cidadão, pois
educar é muito mais do que preparar alunos para fazer exames, é ajudar as
pessoas a entenderem o mundo e a se realizarem como pessoas, muito para além do
tempo de escolarização.
Referências Bibliográficas
·
ALVES, Rubem. Conversas sobre Educação. São Paulo:
Vírus, 2003.
·
_____. Rubem. Conversas
com quem gosta de ensinar. São Paulo: Prós, 2004.
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CANDAU, V. M. Tecendo a Cidadania: Petrópolis: Vozes,
1996
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CURY, Augusto. Análise da Inteligência de Cristo: O Mestre
dos Mestres. São Paulo: Academia de Inteligência, 2006.
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DEMO, Pedro. Desafios Modernos da Educação.
Petrópolis: Vozes, 1993.
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LIBÂNEO, José
Carlos. Adeus professor, adeus professora? Novas exigências educacionais e
profissão docente. São Paulo: Cortez, 2000.
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NÓVOA, A. Concepções e práticas de formação contínua
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de Professores: Realidades e Perspectivas. Aveiro: Universidade de
Aveiro, 1991.
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PERRENOUD,
Philippe. Dez Novas Competências para
ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000.
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TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional.
Petrópolis: Vozes, 2002.