A Teologia nossa de cada Dia - Reflexões sobre os valores do Reino em uma sociedade dita pós-moderna.

terça-feira, 31 de outubro de 2017


 Reflexão sobre os 500 anos da Reforma Protestante



Resultado de imagem para 500 anos da reforma            Olhando para o ambiente de trevas vivido no século XVI, onde imperava o declínio moral e espiritual, apostasia doutrinária e várias práticas do paganismo, preme que venhamos entender como uma igreja se desviou a tal ponto de perder sua identidade e missão. Assim fazendo, poderemos entender a realidade eclesiástica atual e o perigo que nos cerca.

            Quero apenas destacar 3 pontos que considero nevrálgico no que tange a derrocada da igreja. A ordem que se segue não está no quesito de importância, mas sim uma questão pedagógica para entendimento. Primeiramente, percebemos o intuito do clero em ter fieis sem conversão. Nesta época a liderança estava preocupada em encher os templos com os pagãos, pois o interesse era a quantidade e não a qualidade. Tal obsessão propiciou a entrada de muitas práticas pagãs no culto. Infelizmente, parece que estamos vivendo tempos similar aos da reforma, pois tais práticas estão rondando muitos ambientes cristãos. Muitas igrejas tomadas pela visão administrativa de seus líderes estabelecem metas, onde o número está acima da qualidade. É desastroso percebemos que existe muitos adeptos e poucos fieis, muitos simpatizantes e poucos discípulos, fãs e não adoradores. A consequência disto é uma igreja fria, descompromissada com a verdade e sem identidade.

            Um outro fator a considerar era a comercialização na igreja, onde cada bispado ou sede eclesiástica era visto como arrecadação financeira. Naquela época se fazia dinheiro com as relíquias sagradas, vendia-se a salvação e até mesmo comprava o perdão dos pecados antes mesmo de cometê-los. A cúria dava privilégios àqueles que conseguiam maior arrecadação em suas paróquias. Era muito comum a pratica da simonia (venda de coisas espirituais), sinecura (cargos públicos em troca de favores), e o nepotismo. Ao analisar a igreja hodierna, o Rev. Hernandes Dias, nos dias que hoje a palavra se tornou uma mercadoria, o pregador num vendedor, os fiéis em consumidores e o púlpito em um balcão de negócios. É trágico e triste, mas esta é a realidade da igreja 500 anos depois da Reforma. Uma igreja que na pessoa de seus líderes se tornaram materialistas, consumistas e mercantilistas. Neste trânsito religioso vale tudo para atrair o adepto com suas cifras, comercializam tudo em nome da fé e de Deus.

            Não podemos nos olvidar ao estudar a história da igreja, que um outro fator que contribui para tal declínio foi o casamento da igreja com o Estado. O fruto deste casamento foi a corrupção desenfreada no clero. Nesta época de densas trevas era notório o paradoxo vivido pela igreja, pois dentro das catedrais era uma ostentação do clero, enquanto as pessoas viviam em estrema miséria e pobreza. Hoje não é diferente, igrejas recebendo favores do estado em prol apoio político, igrejas sendo usadas para lavar dinheiro, imperando assim o pragmatismo clássico. O enriquecimento ilícito e a vida nababesca de muitos pseudo lideres eclesiástico é evidenciado pelas posses financeiras e o patrimônio de muitas igrejas. Na maioria das vezes o estilo de vida de alguns líderes não condiz com a realidade de seus fiéis. A cristandade hodierna precisa rever seus valores e buscar urgentemente a presença do Espírito Santo.      

            Diante de tais desvios, Deus levantou homens que ficaram conhecidos como os predecessores da Reforma, vejamos: Em 1324 Deus levanta um homem por nome João Wicliffe que em suas homilias falava sobre a moralização da igreja e o afastamento de líderes que tinham práticas pecaminosas e espúrias. Em muitos sermões confrontava o clero sobre o seu enriquecimento e seus bens financeiros. Suas ideias foram proibidas e condenadas pelo Concílio de Constança, em 1415.

            Houve um outro arauto neste tempo de crise (1369), foi João Huss; que em suas prédicas condenava tenazmente as indulgências e a corrupção do clero. Sua mensagem confrontou e incomodou tanto a cúria romana que além de ser considerado herege, seu corpo foi queimado em praça pública. Depois de ser excomungado, foi despido de suas vestes clericais, enfeitado com um chapéu de burro com desenhos de demônios. A história nos lega que mesmo seu corpo sendo consumido pelas chamas ele adorava ao Senhor.

            Um outro ícone deste tempo foi Girolamo Savonarola (1452), que atacava o mau caratismo e os desmandos do Papa Alexandre VI. O resultado por ser um defensor do verdadeiro evangelho foi a morte em uma forca e depois a incineração.

Depois de todos estes, nasceu Lutero. Ao afixar as 95 teses na Catedral de Wittenberg, Lutero estava dando um passo importante na história da Igreja, pois em suma; as teses desafiavam a infalibilidade papal, defendia a supremacia das Escrituras sobre a tradição, condenava as indulgências, a hierarquia clerical e a teologia romana em geral. Como fruto da Reforma, surgiu uma igreja com profundidade nas Escrituras e a Bíblia na mão do povo; contemplamos também uma igreja pura e rica na missão de levar pessoas ao verdadeiro conhecimento da verdade.

Hoje, quando comemoramos 500 anos da Reforma Protestante, fica-nos algumas lições, desafios e responsabilidades. A convicção que temos das verdades do Evangelho é suficiente para nos tornar um mártir da fé... neste período de densas trevas, temos coragem para sermos instrumentos na mão de Deus... Será que estamos sensíveis espiritualmente falando para escutarmos o clamor de Deus por reformadores e profetas...

Que Deus nos ajude a sermos agente de transformação e não meros expectadores da história.

terça-feira, 10 de outubro de 2017


 O Tempo na ótica de Salomão





Resultado de imagem para tempus fugit            Analisando o capítulo 3 de Eclesiastes, onde o Pregador versa sobre o tempo, asseverando que tudo tem um tempo determinado debaixo do céu, percebemos a conclusão do homem mais sábio que já existiu, Salomão, ao dizer: “O que é já foi, o que há de ser também já passou e Deus pede conta do que passou. ”

            O que o texto nos revela em primeiro lugar a celeridade do tempo. O verso da composição poética nos assevera que “o que há de ser também já passou “. O tempo passa, e passa velozmente. A própria conjugação de verbos no presente da língua grega é algo que nos revela o quão efêmero é o nosso presente, vejamos: “Eu estou escrevendo e não, eu escrevo, como na língua portuguesa”.  Rubem Alves, em seu livro Tempus Fugit, em tom poético coaduna com esta ideia, dizendo: Quem sabe que o tempo está fugindo descobre, subitamente, a beleza única do momento que nunca mais será…"

Isto expressa o quanto o presente é quase inexistente, mas existe e voa. O escritor sacro no Salmos 90 chega a dizer que a nossa vida passa como um conto ligeiro e nós voamos. Estando cônscio desta verdade precisamos valorizar mais as nossas decisões e viver de maneira sábia e sóbria o tempo presente. Talvez seja por isso que o salmista diz: “Ensina-nos a contar os nossos dias para que o nosso coração seja sábio”.

            O sábio Salomão nos ensina também que é impossível voltar no tempo. Quando na maturidade da vida, o Rei de Israel expressa; “o que é já foi”. É normal encontrarmos pessoas dizendo: “... se eu pudesse voltar atrás! ”  Alguns filmes de ficção, falam sobre a grande desejo do homem de criar uma máquina do tempo, revelando o dilema humano do passado-presente-futuro. Todos os atos e decisão do ser humano jamais poderão sofrer alteração. Para Agostinho, um filósofo cristão “o tempo implica passado, presente e futuro. Mas o passado não é mais e o futuro não é ainda. E o presente, se fosse sempre e não transcorresse para o passado, não seria mais tempo, mas eternidade”. É necessário saber singrar nestes 3 tempos, pois os maiores problemas do ser moderno para pelo passado não resolvido gerando a depressão; envolve o presente não vivido gerando ansiedade e a apreensão pelo futuro gerando as enésimas fobias.

            Infelizmente não podemos voltar no tempo, mas podemos resolver a nossa vida mudando o presente para termos um futuro melhor.

            E por último, Deus quer a prestação de conta sobre a maneira que usamos o tempo. A parte final da poesia em Eclesiastes nos revela; “Deus pede conta do que passou. ” Aqui, o termo usado no hebraico, nos remete à ideia de “indagar” ou “requerer”. Fica explícito, a partir do verbete usado, é que além de Deus nos indagar acerca do tempo, também exige a prestação de conta.  O texto sagrado diz que prestaremos conta por tudo o que fizermos na vida. O profeta Isaías chega a indagar a nação, dizendo: “de que fazeis o vosso passatempo? ” Paulo, em sua missiva a igreja que estava em Éfeso exortou para que os cristãos percebessem de que maneira eles estavam vivendo e resume falando para remir o tempo, pois os dias eram maus.

            Salomão, viveu a vida intensamente, mas no fim chega à conclusão de que tudo é vaidade e correr atrás do vento. Fixo em sua ilação, Salomão, em tom irônico, diz: “ alegra-te na tua mocidade e ande pelos caminhos do teu coração e pela vista dos teus olhos, porém; saiba que Deus te trará juiz em todas estas coisas”.

            Que a cada dia venhamos viver de maneira a não nos arrepender pelo tempo vivido. Que Deus nos ajude a sermos mordomos de nosso tempo.