A Teologia nossa de cada Dia - Reflexões sobre os valores do Reino em uma sociedade dita pós-moderna.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

 OS DESERTOS DA VIDA

Quando se fala de deserto, de imediato vem o conceito de anonimato, solidão, adversidade, lugar de perigos e de morte. Mas ao olharmos para os relatos bíblicos, vemos que os profetas, alguns reis, líder e sacerdote foram forjados no deserto da vida.
Quero apresentar o lado positivo do deserto, mostrando-o como um lugar de crescimento, experiência, aprendizagem e grandes lições espirituais. Na pedagogia divina, o deserto é a sala de aula.
Geograficamente falando, os desertos ocupam a quinta parte da superfície terrestre. Eles possuem variações consideráveis entre si. Algumas exibem-se em vertentes íngremes e planaltos rochosos; outros, em planícies pedregosos. E há, naturalmente os arenosos, cujas dunas atingem centenas de metros de alturas e se estendem milhares de quilômetros. Apresentam várias texturas, tipos e cores. Eles são brancos, negros, amarelos, ocres, pardo, avermelhados. jamais são verdes. Sempre são lugares difíceis de viver.
Nos desertos, cactos, sarças, arbustos retorcidos e plantas espinhentas precisam acumular toda a água possível para sobreviver o chão ressequido. Cascavéis, escorpiões, aranhas e lagartos escondem-se sob a areia nas horas mais quentes do dia para fugir dos raios solares. É preciso muita busca para encontrar neste ermo cenário e personagens diferentes: a vegetação luxuriante de um oásis, manadas de antílopes e dromedários vagando pela imensidão. No geral a fauna e a flora são formados por criaturas rijas e toscas que se adaptaram, às condições extremas, nas quais só os muito fortes conseguem sobreviver.
Ás altas temperaturas do dia (57 graus á sombra - e não há sombra), segue-se o frio intenso à noite (até 20 graus negativo). Ao anoitecer, o calor desaparece rapidamente, desfazendo-se num céu sem nuvens, Por ano, nunca caem mais de 250mm  de chuva. O único som que se ouve no deserto é o dos fortes ventos que, sem obstáculos pelo caminho, sopram com liberdade nessas regiões desoladas. Eles acentuam a aridez, desgastam as rochas, arrastam as dunas e provocam tempestades de areia, que frequentemente, são fatais.
Você esperaria ouvir a voz deDeus num lugar assim?
Não obstante, foi no palco dos desertos que a maior parte dos dramas bíblicos se desenrolou. A terra de Israel - e das escrituras - podia manar leite e mel, mas também abrigava desertos como o da Judéia, o Negueb e a planície do mar Morto. Alem desses, outros a cercavam: o da Arábia, o da Síria e o Sinai. Algumas das mais facinantes aventuras do homem com Deus aconteceram no deserto. Neles o povo de Israel presenciou milagres durante 40 anos e recebeu os mandamentos da lei. Ali aquele bando de fugitivos tornou-se uma nação e preparou-se para dar à humanidade suas mais valiosas contribuições. No deserto Davi escreveu a maioria de seus Salmos, enquanto fugia das perseguições de Saul. Nesse lugar, Elias, o profeta teve a sua visão mais profunda acerca de Deus.
No silêncio e provação das regiões desoladas, os grandes homens encontraram as revelações que transformaram suas vidas e forjaram a história. O deserto de Mídia foi a escola de formação de Moisés, o da Arábia marcou o período de preparação de Paulo e o da Judéia testemunhou o retiro de orações de Jesus. O Novo Testamento começa num deserto (onde João Batista pregava o evangelho do reino) e termina em uma ilha deserta (onde o apóstolo João recebeu a visão do Apocalipse).
Os cientistas dizem que este é o melhor lugar e também o lugar ideal para se ouvir o que passa nos céus. Estou convencido de que, na vida espiritual, também é assim. Foi na escassez e sobriedade dos desertos, livres das distrações cotidianas e compulsoriamente voltados para o céu, que homens tiveram suas visões mais claras de Deus e escutaram sua voz com maior nitidez.
Vejamos alguns Milagres realizados no deserto: 1) A Coluna de nuvem de dia e a de fogo de noite Ex. 13:22; 2) Travessia do Mar Vermelho Ex 14; 3) As águas amargas se tornam doces Ex 15:23-26; 4) Deus envia Maná Ex 16:1-10; 5) Deus envia carne Ex 16:11-36; 6) Água sai da rocha Ex 17:1-7; 7) Israel vence a batalha contra os amalequitas Ex 17:8-16; 8) Deus concede leis e uma casa de adoração em pleno deserto Ex 20-40; 9) Novamente Moisés fere a rocha e a água sai Nm 20:7-13; 10) Passagem pelo rio Jordão a pés enxutos Js 3 e 11) Jericó é destruída Js 6.
Quando o povo entra na terra prometida, não existe mais deserto, mas também não existe milagres. Sendo assim, não é de se estranhar que ainda hoje, quando o Senhor quer nos ensinar as verdades mais difíceis e importantes, conduz-nos aos desertos. Não estou falando, necessariamente do espaço físico. Estou me referindo aqui aos momentos de esterilidade, provação carência e solidão, que cada um de nós conhecemos bem. Refiro-me aos momentos de crises.
Uma crise é ao mesmo tempo um perigo e uma oportunidade. É um perigo, pois ameaça nos derrubar, destruir e derrotar. A intensidade da situação crítica faz com que o nosso repertório de habilidades para lidar com a tensão e resolver problemas deixe de funcionar. Isso pode nos imobilizar, levar-nos a um período de confusão e espanto, mergulhar-nos no desespero. Por outro lado, ela nos dá oportunidade de mudar, crescer e desenvolver maneiras mais adequadas de encarar nossa existência, viver é superar crises. Atravessá-las é enfrentar desafios que trarão amadurecimento ou deterioração á nossa vida.
Podemos distinguir dois tipos básicos de crise: as interiores que tem a sua origem em nós mesmos; a exteriores que vem do ambiente que nos rodeia.
A bíblia nos apresenta o deserto como algo positivo para a nossa vida. As horas de dificuldade apresentam-se a nós de forma assustadora, porque parecem estar além de nossas forças e habilidades e ameaçam nos destruir. Necessário é saber que Deus é poderoso para preparar uma mesa em pleno deserto (Sl 78:19), Ele transforma ermo em oásis. As crises podem abrir porta para os momentos mais férteis de nossa existência.


Nenhum comentário:

Postar um comentário